quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O Crime


Reescrito por mim, narrado por fim.

Alexi Fonseca, jovem de classe social baixa, nasceu e se criou em um bairro pobre de sua cidade natal, Tapiratiba. Nascido em 1974, foi abandonado pelo pai aos 10 anos, deixando ele, Séfora - sua mãe - e seus irmãos - Davi, de 5 anos e Maria de 2 -.
Esta não é uma história de comoção, esta é a história que lembra um vizinho, o tio de um amigo ou até mesmo uma matéria mostrada em um jornal policial local; que geralmente suja o caráter do entrevistado(a menos que seja alguém poderoso, claro) descaradamente. Enfim, esta é uma história bem "a cara de fulano", pois todos já viram algo assim.

Trabalhando como servente de pedreiro e sua mãe como lavadeira, Alexi - que há tempos já havia largado os estudos - aos 20 anos conheceu Alícia; jovem de 18 anos rescém completados, que morava na mesma comunidade que Alexi e cursava o ultimo ano do ensino médio. Em pouco tempo os dois começaram a namorar e por alguns meses a paz pareceu reinar entre aquelas pessoas.
Quando dizem que "alegria de pobre dura pouco", acreditem; é porque é verdade. Com cinco meses de namoro com Alexi, Alícia descobriu que estava grávida, o que ocasionou ela ser expulsa pelo pai e passar a morar com seu namorado; ao mesmo tempo que Séfora descobriu que portava diabetes tipo 2, o que a fez parar de trabalhar, pelo menos por um tempo. Daí em diante, "problema" se tornou uma palavra comum na vida dos Fonseca, principalmente para Alexi, que se viu sozinho e obrigado a encontrar uma solução.
Com quatro meses de gravidez, Alícia revelou que estava esperando gêmeos; o que deixou Alexi ainda mais preocupado, já que o dinheiro que recebia não dava nem para ajudar sua mãe com os medicamentos.
Os meses foram passando, Alexi já completara mais uma primavera e a situação de sua família - agora maior com Alícia e os dois bebês - era a mais difícil em toda sua vida. Mal havia comida e o estado de saúde de sua mãe piorava cada vez mais pela falta dos remédios. Desesperado, Alexi tomou uma decisão que iria mudar sua vida para sempre.
Morando onde morava, Alexi conhecia todo tipo de pessoa, até mesmo aquelas que não são boas de se conhecer. Logo conseguiu uma arma e munição; o dia seguinte prometia.
Durante a noite, permaneceu calado, pensativo, o que deixou Alícia intrigada:
- O que há? Porque não fala nada? Está inquieto...
- Não tenho o que falar.
- Tem certeza? Tá tudo bem?
- Já disse que não tenho o que falar!
Alexi não tinha gritado, nunca foi disso. Mas sua voz se agravou com a persistência de Alícia.
Alexi se calou. A casa se calou.
O silêncio reina onde há fome.
O dia amanhece e logo cedo Alexi sai e toma um café gelado em algum boteco.
13:30pm
Alexi respira fundo olhando para a sua casa e sai em sua missão.
14:00pm, banco central de Tapiratiba, Alexi anuncia assalto e mantém funcionários e clientes reféns, ameaça atirar em quem tentar reagir.
Logo a polícia é acionada e o banco é cercado por homens da lei.
Borboletas explodem na barriga de Alexi e tremendo, se apressa em pedir os pertences dos reféns e dinheiro ao gerente.
O tempo passa lentamente para Alexi, reféns e policiais.
O sol já está quase sumindo quando as negociações se iniciam; Alexi exige um advogado para lhe defender e enquanto o cansaço e o medo o tomam conta, a polícia tenta armar um esquema para invadir o banco e capturar Alexi sem ferir nenhum refém.
Envão. Alexi era um homem bom e jovem. E os jovens inocentimente não controlam suas emoções, o que muitas vezes isso pode ser um problema. Felizmente as emoções de Alexi não o levaram ao absurdo, não em parte.
Alexi só queria dinheiro, não tinha intenção nem coragem de machucar ninguém.
Em uma confusão de pensamentos e sentidos;
Calores e frios;
A lembrança de seu pai indo embora; o sorriso de Séfora escondido atrás de um olhar pálido; Alícia e seus pequenos...
Após longas 12 horas de cansaço físico e mental, Alexi se entregou à polícia acompanhado de um advogado.
Do lado de fora, uma multidão de curiosos, os malditos jornalistas locais prontos para desmoraliza-lo, e no meio disso, o olhar cansado e sem esperança de Alícia, que carregava seus filhos consigo, pequenos como as lágrimas que caiam de seus olhos.
Ao ver esta cena, Alexi perdeu suas forças, em segundos se deixou cair no chão lentamente, exausto e aos prantos. Suas mãos em seu rosto traduziam o que ele soluçando falava:
- Perdão Alícia, perdão! Me desculpe pelo destino que sem querer estou dando aos nossos filhos, me perdoe!
Não se pôde ouvir mais nada; fora arrastado pelos policiais para dentro da viatura.

E agora você deve estar pensando que esta não é uma história vista em qualquer lugar ou jornal policial, como eu citei no início. Não se vê porque esta é uma história vista por traz das câmeras; por detrás da voz daqueles que não enxergam o desespero.
E ainda assim volto a dizer que esta é uma história comum por ser vivida por muitos, de várias formas, mas assistida por poucos.

Daiane Lopes.

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