domingo, 29 de novembro de 2009

"R" de ''erre''

Era mais um final de quinta-feira. Dessas em que se chega em casa do trabalho, o ambiente inteiramente silencioso com apenas o som do relógio gritando que não há ninguém em casa.
Ela joga a mochila no chão do quarto coberto por pôsteres de cantores que fantasiam em sua mente um destino completamente diferente do que havia sido escrito para ela.
Toma um banho demorado esperando que ao retornar ao quarto encontrasse em seu celular uma ligação daquele que não apareceria pelos próximos dias ou quem sabe meses(tudo depende do que acontece). Mas ele não ligaria; diria que não tinha crédito quando na verdade, estaria aproveitando a farra com a galera da facul.
Havia shows de rock na cidade, mas ela era do tipo que desanimava rápido e quando sentia raiva, mergulhava em seus livros; achava que estudar era uma boa maneira de esquecer as frustrações.
Em algumas vezes acontecia de algum amigo(a) aparecer para arrastá-la do estado vegetativo, mas naquela semana todos estavam ocupados, empolgados, gastando demais para se importarem com quem não está nem aí para si mesma.
Leu, escreveu várias páginas, digitou e pensou por horas até que o celular ligado no carregador apitou avisando que já estava carregado por completo. Ela o pega para fuçar, já que ainda não sabia mexer direito; fazia uma semana que comprometera seu 13º salário com um desses celulares rosas e modernos, de dois chips. Observava se todos os contatos tinham ficado em sua agenda quando passou por uma letra que não desenhava há tempos: Jota

É que “J” é uma das poucas letras que também é nome; e para ela isso era interessante, até porque, além disso, a letra também lembrava alguém.
Deixar uma namorada sensível em uma cidade morgada como esta; viajar e não ligar pelo menos cinco vezes ao dia para dizer coisas bonitas é pedir para deixar o coração da dama carente e livre para novas ou antigas relações.
Ficou pensando naquela letra, naquele nome e naquele homem quando concluiu:
- Faz tempo que não ouço aquela voz 40% feminina.
Por um momento ainda lembrou-se de como aqueles 40% de feminilidade ficavam tão sexy’s em certos momentos.
Esfregou os olhos quase que num susto, tentando desgarrar da lembrança.
- Não, melhor só dar um toque. Sabe lá se ele está namorando...
Deu três toques e nada. Pôs o celular no silencioso e jogou-o embaixo do travesseiro para o caso de “alguém” retornar.
- Nós dois teremos mais ontens ou amanhãs?
E calou boca e olhos com o sono.
- Amanhã é dia de pagamento.
Contas e mais contas para pagar e um conjunto de soutien e calcinha lindo na vitrine!
- Vou levar.
Mulher quando fica carente sente falta de tudo, até do que já tem de sobra.
Mais uma sexta-feira vaga na internet.
- É melhor estudar pro Enem.
Claro que ela não conseguiria estudar, estava ansiosa demais para que algo novo acontecesse.
Nenhuma ligação no celular. Até ele estava descarregando de desânimo.
Hoje é dia 28 e os sofás e camas continuam bem arrumados, não há casa para limpar. Tudo continua intacto e ainda permanecia o único som sonolento do tic-tac do relógio de parede; até a gata tinha arrumado o que fazer pro aí.

O quarto estava com uma iluminação laranja e natural por conta do sol às 3 da tarde. Foi quando o telefone finalmente decidiu tocar(cantar):
“Caught in a bad romance…”
Era ele, o Jota.
Ficou pensando por uns três segundos no que dizer quando pôs o celular no ouvido, apertou a tecla verde e permaneceu calada.
Puxa vida, fazia tanto tempo que não se falavam; como poderia reagir àquilo?
- Alô, Jess?
- Oi!
Ela não sabia se calava a boca ou o coração que naquele momento batia mais alto que a voz dela.
- Então, tinha visto sua ligação, mas decidi retornar só quando colocasse crédito. Como você está menina? Faz tanto tempo que não te vejo!
Ela pensou bem em cada palavra que ia dizer e tentou tomar cuidado para não demonstrar o nervosismo. Mas é claro que foi envão, até porque ele também estava nervoso.
Depois de meia hora de conversa(hoje em dia as operadoras facilitam muito a vida dos desocupados), os dois permaneceram em silêncio por um momento. Um esperando que o outro puxasse um assunto(ou encontro).
- E aí, vai fazer o que hoje?
- Quem? Eu? Nada! Aliás, faz dias que não faço nada.
Depois de ter dito isso ela mordeu os lábios arrependida; pensou que agora ele pensaria que ela se auto-convidou para algum programa com ele.
- Nem eu. Fiquei sabendo que Madagascar II já chegou ao cinema, ta afim? Olha só, o filme é infantil, o que significa que eu não vou ter chance de te agarrar(deu uma pausa), eu acho.
Eles sorriram e logo ela o acompanhou com uma resposta:
- Por mim tudo bem. Eu não tenho nada(ninguém) para fazer(ver) mesmo.

Há quem diga que não. Mas eu continuo com a tese de que Uma coisa leva à outra.

Daiane Lopes.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009


Eu não preciso demonstrar todos os dias aquilo que eu sempre senti e sentirei.
Gosto de gostar baixinho.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Eu não sei onde nasci
Não lembro como nem quem veio me trazer àqui.
Não tenho endereço nem sobrenome
Não sei explicar qual é o vazio que me consome
Eu sei que desfarço bem essa maldade
Quem de longe vê nem imagina a verdade.
Não tenho casa nem endereço
Eu não sei o que realmente mereço.
Não tenho amor algum, não sou a doninha de ninguém
Sou alguém incomum, sem nenhum vintém.
Eu sou sozinha e não estranhe
Eu, não tenho pai nem mãe.